Muitos pacientes acreditam que a medida que prevê a subvenção dos medicamentos para as doenças crónicas não transmissíveis, anunciada pelo Governo, em Dezembro último, vai atenuar o seu sofrimento, uma vez que ainda fazem gastos avultados na compra de fármacos para controlarem as doenças que as apoquentam.
Em função disso, a pressão arterial disparou devido ao stress, decorrente de várias situações que ocorreram na empresa em que trabalha.
Morador do bairro Cassenda, Júlio António conta que o emprego era prioritário e requeria muito tempo de trabalho, dedicação, esforço mental e muitas horas de labuta. "Eu desconhecia que era hipertenso. Nunca tinha feito algum acompanhamento neste sentido e acho que as nossas unidades de saúde não têm a preocupação de, sempre que alguém vai a uma consulta, submetê-lo a exames para aferir e se tem os níveis tensionais controlados", explicou.
Júlio António acrescentou que, na altura, deveria ter alguma desconfiança, uma vez que a mãe, o pai e os irmãos já eram hipertensos.
"O que aconteceu é que, acordei na madrugada e procurava chamar pelos familiares, mas não conseguia falar porque tinha a língua presa e pesada e a fala bloqueada", explicou, acrescentando que a pressão arterial passava dos 200.
Desde então, Júlio António passou a ser acompanhado em duas clínicas de Luanda. Após receber alta, ficou cinco meses em casa.
"Tive de passar por situações difíceis, mas recuperei a fala de forma paulatina em quase um mês", frisou, acrescentando que foi submetido a sessões de fisioterapia.
Poucas sequelas
Com poucas sequelas do AVC, principalmente do ponto de vista físico, Júlio António conta que muita gente, hoje, pode não acreditar que ele esteja entre os milhares que padecem da hipertensão arterial.
"Actualmente, tenho feito todo o controlo desde alimentação, recorro com alguma regularidade a exercícios físicos, procuro evitar perdas de noite. Mas, a maior preocupação tem sido a medicação", lamentou, salientando não ser fácil sustentar a compra de medicamentos, que tem de tomar todos os dias e por longos anos, segundo os médicos.
Em relação aos gastos feitos em medicação, Júlio António avançou que os mesmos são avultados estão acima dos 50 mil kwanzas, sem contar com as sessões de fisioterapia, consultas regulares e exames.
Alívio financeiro
Júlio António considera que a medida do Governo vai ajudar os pacientes de doenças crónicas, como a hipertensão, que é o seu caso.
"Esperamos que isto se reflicta positivamente na vida dos pacientes e das suas famílias. É assim nos outros países e funciona. Acreditamos que vamos ter um alívio financeiro enorme e esperar que esta decisão governamental não seja selectiva, mas sim abrangente", apelou.
Além disso, acrescentou, todos os cidadãos que comprovarem, de facto, que devem merecer esta subvenção, podem beneficiar e não acontecer como nalgumas políticas em que a população não sente os reflexos.
O entrevistado espera, também, que a medida seja implementada o mais rápido possível, para que os pacientes que padecem de doenças crónicas possam sentir a vida mais aliviada.
"Esperamos que haja outras medidas a nível laboral, porque, muitas vezes, quando somos afectados por situações de crise, não há contemplações, somos sacrificados com faltas e descontos, o que ainda torna mais difícil e complicada a vida financeira dos trabalhadores", salientou.
Incapacidade financeira
Se Júlio António consegue pagar a medicação com alguma dificuldade, a senhora Maria da Conceição, 43 anos, chegou, por várias vezes, a abandonar o tratamento por incapacidade financeira.
Moradora do Distrito Urbano da Estalagem, município de Viana, Maria da Conceição enfrenta, hoje, problemas de insuficiência cardíaca, uma das consequências da hipertensão.
A situação dela é preocupante. Aliás, há cinco dias que está internada na área de Medicina Interna do Hospital Geral de Luanda, à espera de uma bateria de exames. Por enquanto, os médicos estão a fazer um estudo para determinar a que tipo exames será submetida.
Para já, a mulher manifestou alegria enorme quando soube que o Estado vai subvencionar os medicamentos das doenças crónicas não transmissíveis, como a hipertensão.
"É de louvar e agradecer a Deus por essa iniciativa do Governo. Vai ajudar bastante a população, uma vez que a vida está apertada", disse.
Quer o primeiro interlocutor, quer o segundo souberam do seu estado clínico depois das crises que tiveram. Isto acontece, segundo a médica Conceição Lopes, especialista em Cardiologia do Hospital Geral de Luanda, porque a hipertensão é uma doença silenciosa.
Pelo menos 50 pacientes atendidos por dia
No Hospital Geral de Luanda, onde Maria da Conceição recebe assistência, são atendidos, em média, 50 pacientes por dia. A médica Conceição Lopes informou que a maioria dos casos que surgem na unidade é de pessoas adultas, que chegam com queixas relacionadas com tonturas, desmaios, dores de cabeça frequentes, entre outras.
"Só depois de examinadas é que se descobre que são hipertensas, com um quadro clínico já preocupante", realçou.
A cardiologista mencionou a hipertensão arterial primária e secundária como as que mais levam doentes ao hospital.
A médica precisou que a hipertensão é primária, quando surge sem causa clara, enquanto a secundária decorre de outras patologias. Por isso, disse, é fundamental diagnosticar a origem do problema para que seja realizado um tratamento mais adequado.
"Medida vai atenuar sofrimento de muitas famílias angolanas”
A bastonária da Ordem dos Médicos, Elisa Gaspar, aplaudiu o anúncio do Governo de subvencionar os medicamentos para doenças crónicas não transmissíveis, considerando que a medida vai atenuar o sofrimento de muitas famílias.
A medida, disse, vai aliviar os gastos da população, uma vez que nem todas as pessoas ou famílias têm a possibilidade de comprar medicamentos por falta de meios financeiros.
"É uma grande oportunidade de aprendizado com outros países que enfrentam este desafio há anos. Fortaleceram os seus sistemas de Saúde, ajudando a população na garantia de melhor qualidade de vida", explicou. Elisa Gaspar entende que a expansão do acesso aos medicamentos vai ajudar nos cuidados primários de Saúde, que considera um dos principais desafios do sector.
"Há a necessidade de uniformizar os serviços de Saúde, de forma a trazer satisfação e sucesso para as famílias, implementando farmácias populares para que as pessoas mais vulneráveis tenham um futuro melhor", frisou.
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